Gostaria hoje de vos falar de algumas das imagens mais tristes que me atravessam a mente e que não há meio de sairem. Falo do choro das crianças, falo dos sem-abrigo, falo de tipos que abusam da musculação. Sobretudo as imagens destes últimos tornam-se difíceis de apagar - são muito grandes e encorpadas. Estou a falar do género de indivíduo para quem um transporte público devia ser um camião de mudanças; e quando anda na rua é que parece ter comprado três bilhetes. Um para ele e outro para cada um dos braços.
Note-se que não estou a falar de pessoas normais que gostam de se manter em forma e cuidar do físico, estou a falar daqueles seres que passam mais tempo no ginásio do que em casa. Estes, não deviam pagar mensalidade, deviam pagar renda. E também deviam ser obrigados a fazer um ALD por cada máquina de pesos.
Sou pouco informado sobre o assunto mas quer-me parecer que o excesso de musculação provoca diversos efeitos secundários difíceis de esconder. Logo à partida, uma das sintomatologias que observo nos indivíduos que abusam da musculação é o excesso de calor. Mesmo nos dias em que caem camadas de geada à antiga portuguesa, não sabem o que é um casaco. Mesmo em condições climatéricas adversas andam sempre de cavas. Estou a exagerar. Naquelas noites de inverno em que o cidadão comum anda de samarra, gorro e cachecol, os ultra-musculados usam uma daquelas t-shirts cujas mangas até são capazes que tapar quase na totalidade o sovaco.
Outro dos efeitos secundários do excesso de musculação é a perda de memória. Prova disto é que a maioria deles desenvolvem os membros superiores e o tronco mas esquecem-se que têm pernas. No fundo é a mesma coisa que um jogador de râguebi neozelandês sair de casa à pressa e só ter tempo de vestir as pernas do Júlio Isidro. Ou o Godzilla andar a esmagar arranha-céus com as pernas do pato Donald.
O vício da musculação chega a um ponto em que se quer sempre ir mais longe e mais baixo. É aí que se passa para o culturismo. Chama-se culturismo porque dá a ideia que andam a cultivar batatas pelo corpo. Depois é só dar-lhes uma demão de verniz e ficam prontos para exposição.
Alguns destes indivíduos gostam de conjugar a musculação com uma dieta à base de cocktails de esteróides anabolizantes e para sobremesa um ou outro medicamento usado em cavalos. (Estamos a falar de cavalos agarrados que já tiveram mais overdoses que o Slash e o Keith Richards juntos.) Pessoalmente, prefiro cortar no pão e nas gorduras. Estudos indicam que os esteróides causam encolhimento dos testículos. Ora, aqui já tenho dúvidas se não se importam de viver com este efeito secundário ou se é de propósito. Se calhar, é a única forma de conseguirem enfiar aqueles calções de licra justinhos.
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elizabeth e as águas verdes do pacífico