Gostaria hoje de vos falar de um assunto que me incomoda e perturba bastante. O acordeão. Incomoda e perturba bastante sobretudo quando estou prestes a adormecer. E pior ainda é quando se juntam dois acordeonistas ao despique e a acelerar no instrumento que nem uns tresloucados. Mais valia espetarem-me logo com uma cavilha em cada ouvido que era com certeza uma experiência bem menos dolorosa.
É pra mim um mistério haver indivíduos que suportam o som de um acordeão. Não me parece humanamente possível. O acordeão não só tem o som mais incomodativo do universo como só pode ser responsável pela maior taxa de suicídios entre pessoas de bom-senso que têm o azar de ir parar a festas populares e não levar viatura própria. Não me interessa a História do Acordeão que se conta - que deve ser bem bonita e vir na Wikipédia e tudo - o que importa aqui realçar é que falamos de um instrumento musical que só pode ter sido inventado pelas mãos do próprio Belzebu. Deus: harpas. Diabo: acordeões (até o plural é um inferno).
Mas dizia eu, o Demónio criou o acordeão porque achava que ainda não existiam coisas suficientes para se odiar - lembro que na altura ainda não existia spam nem as Tardes da Júlia. As palavras que terá preferido no momento da concepção do acordeão foram, e passo a inventar a citação, “Isto não é um piano, não é bem uma sanfona nem um fole para soprar brasas nem nada, querem lá ver que inventei o primeiro instrumento musical mutante? Espera lá, esta coisa até produz um som capaz de aborrecer um ser humano em coma. Bingo!”
Por tudo isto é que dizem por aí à boca pequena que o Quim Barreiros quando era adolescente fez um pacto com o Diabo. Ao que parece o jovem Joaquim era bastante imberbe mas tinha o sonho de exibir uma bigodaça valente. Daí que propôs trocar a sua alma por um bigode farfalhudo. Ao que o Diabo terá respondido: “Não quero a tua alma pra nada que ainda ontem caiu um avião cheio de advogados. Vais é andar uma vida inteira a trabalhar para mim que a malta das tunas não pode estar em todo lado. Ah, e já a agora levas um chapéu na cabeça que eu cá também tenho direito a rir-me um bocado.” Não sei a estória se passou exactamente assim, foi o que me contaram.
Humores, Ideias Fixas, Ideias Soltas, Dúvidas Existenciais, Teorias de Bolso e Outros Textos Incendiários
elizabeth e as águas verdes do pacífico